Acidente Vascular Cerebral (AVC) 

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode ser fatal, pelo que a prevenção é fundamental. Ana Abreu, cardiologista e coordenadora do Grupo de Estudo de Risco Cardiovascular da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, dá a conhecer o papel dos cuidados de saúde primários na prevenção do AVC.

O AVC constitui a principal causa de morte em Portugal. Por que razão acontecem tantos AVC?

O AVC é a principal causa de morte e de incapacidade em Portugal. A elevada frequência de AVC em Portugal (três AVC por hora) deve-se à grande prevalência e insuficiente diagnóstico e controlo de fatores de risco cardiovascular (nomeadamente de hipertensão arterial).

O estilo de vida e comportamentos inadequados, como uma alimentação muito rica em sal e gordura, com grande ingestão de álcool e sedentarismo contribuem para a elevada ocorrência de fatores de risco cardiovascular.

Existem dois tipos de AVC: o isquémico e o hemorrágico. Quais são as diferenças?

O AVC isquémico ocorre por interrupção da irrigação sanguínea numa parte do cérebro, devido a oclusão (entupimento) de uma artéria (do cérebro ou do pescoço) por trombo (coágulo formado localmente em casos de aterosclerose) ou embolo (coágulo proveniente de outro local, por exemplo do coração, em casos de arritmias ou de corações dilatados com deficiente função).

O AVC hemorrágico ocorre por rotura de uma artéria cerebral devido, em geral, a hipertensão arterial (mais raramente causado por tumores cerebrais) ou rotura de aneurisma de artéria cerebral (malformação congénita com dilatação localizada da artéria). Os sintomas são idênticos, contudo a evolução e a recuperação podem ser diferentes.

É possível reconhecer os sintomas do AVC? Quais são eles?

Os AVC podem manifestar-se de várias formas. De uma forma simples, em geral os sintomas dividem-se de acordo com os “5 F”:face descaída, com assimetria do rosto; diminuição de Força num braço (acompanhada ou não de diminuição de força na perna do mesmo lado); dificuldade na fala, fala arrastada, dificuldade no discurso ou discurso pouco compreensível e sem sentido; falta súbita ou alteração da visão (como visão dupla) em um ou dois olhos; e forte dor de cabeça, muito intensa e diferente do habitual.

Pode existir ainda perda de consciência, tonturas, perda ou alteração de sensibilidade num membro ou em dois membros do mesmo lado (braço e/ou perna), perda de equilíbrio e dificuldade em engolir, entre outros sintomas.

Quais são as principais consequências para a saúde após um AVC? 

As consequências dependem da área do cérebro afetada (local e extensão), do tipo de AVC, da precocidade e do tipo de tratamento instituído e da sua recuperação, podendo estas ser muito diferentes.  

Pode existir uma recuperação total ou quase total da perda de função ou permanecer uma incapacidade desde grau ligeiro até grave (perda de marcha, perda de fala, perda de visão, entre outras). Quando as sequelas são graves, pessoas que eram profissionalmente ativas podem ficar incapacitadas para o trabalho e até perder a sua autonomia pessoal, ficando dependentes.

Quais são os principais fatores de risco (modificáveis e não modificáveis) para o AVC?

Fatores de risco como a genética, a idade e género são importantes mas não são modificáveis. Outros fatores importantes que conseguimos modificar, e que importa diagnosticar precocemente e controlar com eficácia, são a hipertensão arterial, a diabetes, a dislipidemia, o tabagismo (que duplica o risco de AVC) e o consumo de álcool.

É também importante o diagnóstico e tratamento rápido da fibrilhação auricular (arritmia cardíaca, que é causa frequente de AVC isquémico).

Sabendo que o AVC pode ser evitado em cerca de 80% dos casos, é fundamental não só prevenir o primeiro evento, mas também as recorrências (que são comuns, quando os fatores de risco não estão adequadamente tratados).

A prevenção é essencial. Sendo que os cuidados de saúde primários são aqueles que apresentam serviços de grande proximidade com a população e com um acompanhamento longitudinal, qual o seu papel na prevenção do AVC?

O papel dos cuidados primários de saúde na prevenção do AVC diz respeito a pessoas de risco cardiovascular sobretudo elevado, mas deve alcançar a população em geral. Para a população, os cuidados devem incluir o alerta para a elevada prevalência da aterosclerose, dos seus fatores de risco (hipertensão, dislipidemia, diabetes, sedentarismo) e ainda da fibrilhação auricular (arritmia cardíaca que causa frequentemente AVC isquémico), além de recomendações para diagnóstico precoce e medidas preventivas (passando pelo estilo de vida saudável).

O papel dos cuidados primários em pessoas de risco deve incluir a avaliação da gravidade de risco, recomendações de estilo de vida (alimentação, exercício, abstenção tabágica e consumo de álcool reduzido) e tratamento com medicamentos para o controlo precoce e eficaz dos fatores de risco cardiovascular.

Podemos então dizer que, no que concerne à prevenção primária, os cuidados de saúde primários são o pilar para diminuir a mortalidade e a morbilidade deste problema?

A prevenção primária, através de medidas dos cuidados primários de saúde prestados, é sem dúvida o pilar base para a redução de ocorrência do AVC e portanto da morbilidade e mortalidade dele decorrentes.

Face ao AVC instalado, a prevenção secundária, passando pela reabilitação adequada, será um segundo pilar contribuindo para reduzir morbilidade e mortalidade numa fase mais avançada de doença.

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